domingo, junho 30, 2013

A vida é um mistério que nunca poderá ser totalmente compreendido

Acabei de tropeçar na fita que me escreveste. Não foi a primeira vez, acontece com frequência. Guardo-a numa caixinha, separada de todas as outras fitas e longe da pasta da benção, bem ao alcance da minha vista. Sei o que a caixa contém mas é raro ceder ao impulso de voltar a ler as palavras cujo sentido já conheço de cor. Não sei que força me levou a fazê-lo hoje, gosto de pensar que de alguma forma és tu que me guias sempre que o faço. E chorei. Chorei como se deve chorar poucas vezes na vida. Chorei por mim, por ti, por tudo o que já não é, pela pessoa que já fui e por já não estares cá para chorares comigo pelo que a inevitável passagem de tempo faz connosco. Estar vivo é isto. É sinónimo de assistir, de mãos atadas, à mudança: de corpo, de convicções, de personalidade, de vida, da essência do que somos. Quanto a este último, não tenho tanta certeza disso, mas foi o que me fez chorar. Porque, ao ler a tua fita, tão cheia de mentira e de verdade, tão honesta na tentativa de salvaguardar realidades que já não existem, percebo que te toquei da forma como toco quase toda a gente de quem gosto ou que gosta de mim: com a brutalidade da minha honestidade e sinceridade. Mas também percebo que mudei. Já não tenho 17 anos, já não os tinha quando escreveste aquelas palavras, a vida foi tão madrasta comigo como é com todos os que não a temem e isso não passa incólume. Reconheço a pessoa que retratas, mas também reconheço que a inocência se foi, embora acredite que, queira eu ou não, a essência se mantenha. Porquê? Porque é que tinhas que morrer e deixar-me uma fita escrita a dizer que me oferecias a tua amizade mais verdadeira até ao fim, numa frase cheia de pontos de exclamação? Numa fita assinada a 16 de Maio de 2000? A sério, a 16 de Maio, esse dia que ganhou um significado brutal na minha vida um ano após a tua morte? Esse dia que me mudou, que me faz duvidar que a pessoa maravilhosa que viste em mim ainda exista? Já não sou uma menina, como poderia? Suponho que, se ainda cá estivesses, também não serias o rapaz que deu voz àquelas palavras. Mas, por que raio, não estás cá para poder discutir isto contigo? Seria tão mais divertido. Triste à mesma, mas com mais sentido.

2 comentários:

Paula Braçais disse...

tão triste e tão bonito ... sentido... pungente! :/

Lwlw disse...

A beleza dessa tristesa, dessa amizade, dessa falta, é de deixar "breathless"/sem fôlego...