quarta-feira, outubro 27, 2010

Finalmente, acabei!



*** Pode conter spoilers ***

Terminei ontem o terceiro livro da saga Millennium de Stieg Larsson. Só não desisti a meio porque, afinal, era o último de três livros. Queria saber como era o "desfecho", se é que se pode chamar desfecho ao terceiro volume daquela que era suposto ser uma colecção de dez livros. Ao contrário do segundo, para mim o melhor dos três, que li de uma rajada só, este terceiro é chato, sem acção, descritivo demais e fastidioso. Para terem uma ideia, passam mais de 500 páginas até que a protagonista saia do hospital. Se tivermos em conta que ela é internada no final do segundo volume, dá para ter uma ideia de quanto o autor se perde em detalhes desgastantes para quem procura o ritmo frenético do livro anterior. Se gostei, gostei. É uma história interessante, bem estruturada, que nos consegue agarrar sobretudo pela personalidade única de Lisbeth Salander. Mas é impossível não reparar na falta de originalidade nas descrições do dia-a-dia das personagens, que se resumem ao acto de ligar a máquina de café, tomar banho e vestir uma muda de roupa lavada, enquanto tomam um pequeno-almoço no balcão da cozinha. Apenas os verbos quebram a rotina. Também é difícil fingir que não percebemos o carácter "autobiográfico" de Mikael Blomkvist, que acompanha a protagonista ao longo dos três livros. Tal como Stieg Larsson, jornalista de uma revista mensal. Dotado de algum charme, chega a irritar pelo facto de se deitar com todas as personagens femininas com que se cruza. Personagens estas que, invariavelmente, caem de amores pelo jornalista. E sim, percebe-se que havia histórias para desenvolver em livros futuros. Esta foi uma das questões que não consegui esclarecer antes de começar a empreitada da saga. Se o autor, antes de morrer de ataque cardíaco, tinha pensado em dez livros e até existe um quarto algures entre os ficheiros da editora e da namorada, isso não se nota na narrativa? Claro que sim. A história fecha, quando viramos a última página do terceiro volume. Mas há cenas desenvolvidas ao longo das 700 páginas de cada um dos livros, que nunca conhecem razão de ser. Há personagens que, embora mencionadas, nunca chegam a aparecer nem se sabe o seu destino, como é o caso da irmã de Lisbeth. Outras ficam em stand by. Enfim, há uma imensidão de temas que se perdem. Não fazem falta, mas claramente são lançados para servir de âncora para uma nova aventura dos protagonistas. Dispensava-se a descrição técnica de todo o processo de investigação que estraga o último volume. Pouco faltou para o deixar a meio. Muito pouco.   

2 comentários:

Poetic Girl disse...

O terceiro confesso que também me desiludiu um pouco, talvez por não ter tanta acção como os outros dois. Mas fico curiosa de imaginar que ele teria imaginado para prosseguir com a história já que a trama era bem densa... bjs

AR disse...

Li os três seguidos no Verão de 2009, fizeram o meu Verão. A escrita dele, dentro dos policiais, era realmente diferente e a Lisbeth é daquelas personagens literárias que, para o resto da vida, vou pensar que conheci mesmo.
Acho que as personagens são bem construídas, muito sólidas na caracterização psicológica, coisa que acaba por passar para o físico e para o rol de emoções e acções que elas protagonizam ao longo dos 3 livros.
Com o teu texto, consegui recordar o quão divertidos foram os tempos que andei embrenhada nesses três calhamaços, sensações que não se repetem mesmo.