quarta-feira, junho 13, 2012

Saber largar o passado

Durante anos, uns oito, assisti de camarote aos desfiles das Marchas Populares na Avenida da Liberdade, a partir do mítico quinto andar edifício do Diário de Notícias. Invariavelmente, enquanto despachava mais uns telefonemas, uns textos ou umas páginas para o fecho, comentava o facto de os marchantes usarem roupa muito mais quente em junho do que no Carnaval. A ironia de se despirem no Inverno e usarem recato no Verão. Hoje, dois anos desde a última vez que estive nesse camarote, não fui a Lisboa sequer e dei por mim, sem planear, a espreitar os desfiles na televisão. Não sei se alguma vez tinha estado deste lado antes, não guardo memória disso. Mas, embora recorde o balcão privilegiado, não sinto saudades. Estar lá implicava estar a trabalhar enquanto todos se divertem, e todos sabem o reconhecimento que isso me trouxe. Saber andar em frente também é ter coragem de largar o passado. Foi um bom posto, com vista privilegiada, guardo-o como um pequeno tesouro, mas não preciso de o repetir. Tê-lo vivido chega-me. Venham experiências que ainda não tive, que me façam tão ou mais feliz.

Sem comentários: