quinta-feira, outubro 13, 2011

Mudei

Se dantes não deixava livros a meio por uma questão de honra, agora dou por mim a fazê-lo sem dó nem piedade. Escasseia-me o tempo para fretes, a bem dizer. Tudo começou há uns meses com "Viagens Contadas", da jornalista Maria João Ruela. Estava a lê-lo por motivos profissionais e, ao mesmo tempo, a obrigar-me a não reparar na óbvia dificuldade que uma pivot tem em usar as palavras num registo literário. Não que escreva mal, que não é o caso, trata-se antes da constatação natural de que, quem nunca escreveu para ser lido, dificilmente o fará bem à primeira tentativa. Enfim, como se tratava de uma questão de trabalho, bastou-me por o livro de lado, sem me martirizar por aí além. Embora o bichinho da vergonha da desistência tivesse ficado a moer-me o juízo, admito. Adiante, que a história tem mais que se lhe diga. Curiosamente, também com uma jornalista portuguesa. Desta vez foi a Alexandra Lucas Coelho que me obrigou a largar o tão aclamado "Caderno Afegão" em parte incerta. Minto, sei perfeitamente onde está - na minha mesa de cabeceira - mas faço por ignorá-lo. Os fãs que me perdoem e a Alexandra Lucas Coelho também mas, para mim, aquilo não é escrever. Corrijo, para mim, aquilo não é contar uma história. Não que o tema não seja interessante, que é, ou que não tivesse curiosidade em saber até onde aquelas reportagens - era isso que estavas lá a fazer, não era? - iriam levar, mas cansei-me. O registo telegráfico não me convence mas, lá está, percebo quem goste. Não me incluo no grupo e, por isso, fechei o "Caderno" a meio. Um que ficou pelas primeiras dez páginas, e o último destes meses, é ainda mais surpreendente. Desta vez foi a "Bica Escaldada", de Alice Vieira, que me caiu mal. Nada contra a escritora, que escreve como ninguém, embora eu ainda tenha muito que explorar da sua obra. O amargo de boca veio-me do facto de este livro ser uma compilação de crónicas da vida quotidiana, que foram publicadas em dois jornais e duas revistas da nossa imprensa. Descobri que não consigo compactuar com esta coisa de se pagar a peso de ouro a alguns jornalistas para escreverem mil caracteres de banalidades. Sei que, neste saco, estou a meter um ou outro merecedores desta distinção e, provavelmente, Alice Vieira será uma dessas honrosas excepções mas, que querem? Não consigo alinhar nisto. Curiosamente, descubro que existe um padrão nos três livros que não cheguei a terminar.

8 comentários:

Johnny disse...

Eu também já deixei livros a meio. Se a história não me está a interessar, para quê perder tempo? Há tanto e melhor para ler.

Ritinha disse...

Sabes quando trabalhava numa livraria deixei de ler porque todos os dias lidava com eles , punha-os na prateleira , vendia-os e etc etc etc
Chegava ao fim do dia sem paciencia para ler o meu livro.
Agora q me passou o trauma também consigo escolher o que é mais proveitoso e o que não é.
Tudo isto para dizer-lhe que nao faz mal deixar livros em branco, eu também já deixei.
Mas ja leu o do Rodrigo guedes de Carvalho , também jornalista , a mulher em branco? :p Este decerteza que não se deixa de ler :p
Fica a minha sugestão.
Beijinhos *

Vanita disse...

Obrigada pela sugestão, Ritinha. Vai para a minha lista de livros a ler :)

Cat disse...

Não tenho pruridos em deixar livros a meio. Há tanto para ler...

Quanto ao padrão, escritoras portuguesas ou não ficção?

Vanita disse...

Sim Cat, basicamente é isso. Só me apercebi depois...

Vanita disse...

Ou seja, são as duas opções que apontas. Desculpa, li mal.

Inês disse...

Não sou capaz, admito o meu masoquismo. Nunca deixei um livro a meio, por pior que fosse (embora tenha deixado o Mundo de Sofia durante 2 anos na mala do carro da minha mãe). Não me vejo capaz de o fazer... mas quem sabe um dia... só deve custar o primeiro!

Vanita disse...

Custa todos! Também não fui educada assim mas, de facto, há demasiadas coisas boas para se perder tempo com algumas menos entusiasmantes. Mas sim, ainda encaro como derrota...