domingo, julho 04, 2010

Isto toca-me

Venho agora do Cibertúlia onde, mais uma vez, como nos últimos dias, assisti a um chorrilho de disparates na caixa de comentários. O fecho do 24horas - jornal onde trabalhei oito anos, até ao último dia da sua edição - põe a nu as fragilidades da nossa forma de estar. A falta de tolerância, o seguidismo e, sobretudo, a defesa acérrima de opiniões não-fundamentadas. Todos fazem o seu próprio juízo, cada um mais convicto do que o outro. Mas quantos realmente perderam tempo a construí-lo? Quantos de facto conhecem o percurso do mais bem sucedido tablóide português? Quantos leram o jornal em algum momento? Será que sabem que o 24horas fez História no respeito pelos Direitos de Resposta, como a Lina Santos bem evoca. Será que entendem a dimensão do que essa postura implica em tudo o que é publicado nas páginas desse mesmo jornal, na forma como assumimos o papel de jornalistas, a defesa das fontes e a procura da verdade? Ao assumir os erros na Primeira Página, estamos bem certos do que escrevemos, acreditem. Ao denunciar uma história sabemos o que dizemos, as suas implicações e qual a relevância para o leitor. Foi neste pequeno grande pormenor que poucos souberam entender a diferença. Nada do que era publicado no 24horas - assumo erros que existiram, acontecem e não os tento abafar -, mas reforço, nada do que era publicado no 24horas era gratuito. As histórias eram fruto de um trabalho intenso de pesquisa, de cruzamento de fontes e de confirmação antes de conhecerem as prateleiras das bancas. E é esta forma de trabalhar que distingue quem um dia vestiu a camisola do 24horas. Podia neste momento evocar a quantidade de profissionais que passaram pelo jornal e continuam a dar mostras do seu excelente trabalho em publicações ditas de referência, sem que os leitores se apercebam sequer disso. Podia até falar do espírito de equipa e de camaradagem que se vivia na redacção. Nada que interesse a quem tem a sua opinião bem formada, que não pretendo mudar. A verdade é que nunca aqui revelei a minha profissão ou o sítio para onde trabalhava. Trata-se de um blogue pessoal e não faria qualquer sentido fazê-lo mas, perante as reacções que tenho lido desde que foi anunciado o fecho, resta-me a dignidade. E a dignidade é dizer-vos, sem qualquer medo das vossas reacções, que tenho orgulho de ter feito parte do 24horas.

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá Vânia:

Vivemos, (in)felizmente, num país onde ser intelectual é bem, ler o Expresso ou o Sol ao sábado numa espalanada dá estilo. Mas a verdade é que todos querem saber o que se passa na vida dos outros, os podres dos poderosos, as verdades caladas... e o 24horas ocupou durante esse espaço o vazio que havia na imprensa nacional, de forma séria e honesta. Popular ou populista só o lia quem queria, era feito com muito esforço, dedicação e trabalho de muitos profissionais que deram corpo ao manifesto, sem vergonha. É aqui que os profissionais do 24horas se distinguem... não têm vergonha de dizer que um dia trabalharam no tablóide português (para mim foram 5 anos). Não se fechou apenas um jornal, mas só quem vestiu a camisola 24horas sabe o que isso quer dizer.

Beijinhos e boa sorte

Andreia Caturna Martins

Vanita disse...

A blogoesfera é realmente uma caixa de surpresas. Não podia imaginar que te ia encontrar por aqui. Boa sorte também para ti, Andreia :)

Beijos

Sadeek disse...

Vanita...

Acredito que por lá trabalhavam alguns muito bons jornalistas. Até porque só com muita investigação e trabalho se poderia ter aquele tipo de conteúdo. Mas o 24 não era um jornal. Era uma espécie de "Bild" ou "Sun" em versão Portuguesa. Era sensacionalista e vivia do escândalo e do voyeurismo que há em todos nós. Mas pronto...que gostava que comprasse. Eu não. Tudo isto não invalida que as pessoas que lá trabalhassem tivessem o máximo de valor. Que podia, e devia, ter sido aproveitado noutras direcções.

BEIJOOOOOOOOOOOO