quarta-feira, agosto 14, 2013
Bitolas
Fernanda Câncio posta a foto de Judite de Sousa num grupo de FB, fechado para mais de cinco mil membros, e comenta que não gosta de ver aquela imagem. Muitos comentários, insinuações e acusações mútuas mais à frente - é um grupo que se alimenta desta peculiar forma de estar -, mesmo muitos mais, a ex-namorada do ex-Primeiro Ministro, explica que o que está mal na imagem é a placa com referência ao local onde a foto foi tirada. O rol de lições de jornalismo mantém-se e enche a caixa com comentários que chegariam para fechar uma edição de jornal diário. Na verdade, nos entretantos, há mesmo uma edição que sai para as bancas, pasme-se, com chamada de capa para a posição de Fernanda Câncio, ainda se lembra de quem estamos a falar? A ex-namorada de Sócrates. Pois, essa. Para os menos avisados, também é jornalista. Como facilmente se adivinha, se já não era pequeno, o frenesim assumiu proporções gigantescas, tanto ali como um pouco por todas as redacções deste País, porque se há matéria que faz mexer os nossos profissionais, é uma boa picardia que os mais sisudos apelidam de "cor-de-rosa", sempre com o adequado ar de desprezo, não haja confusões. Ora a discussão já se alongava em demasiadas e exaustivas horas quando a Nandinha - a esta altura já temos esta liberdade, com certeza - se lembra de fazer o contraditório numa coluna de opinião. Pois que a culpa é toda dos paparazzi, dessa gente que não olha a escrúpulos para cometer crimes a que chama de informação. Pois que o mundo está perdido, porque ninguém faz nada para travar esta calamidade isenta de moral e que é causa da podridão em que o jornalismo se está a transformar. Ora bem, é assim mesmo: confundir, baralhar, misturar tudo, apontar o dedo para o lado mais fácil e desviar atenções. Como em tudo na vida, o cinzento impera, bem sei, não há preto e branco, mas as costas largas do "cor-de-rosa" e dos paparazzi não chegam para tudo, lamento dizer. Por muito que seja lamentável, se uma figura pública critica outra nas redes sociais - mesmo que seja num grupo fechado com mais de cinco mil pessoas - isso é notícia. Tem valor-notícia e ignorá-lo é apenas absurdo. Mas é assim no mundo do social - temos pena, mas é do que se trata - como nos meandros da política ou do desporto. Porquê? Porque, quer se goste ou não, foi o assunto do dia. Acusar paparazzi e desviar atenções porque o "cor-de-rosa" procura notícias de forma "criminosa" e não convencional é apenas desonesto. Como é que surgem as cachas no jornalismo político ou de qualquer outra cor? É durante as conferências de imprensa ou será em conversas que existem por debaixo da mesa e nos levam, com investigação e cruzamento de fontes, à história que faz a notícia. Estamos na era da informação, todos sabemos como é que isto se faz, atirar com areia para os olhos é, no mínimo, um tiro no pé. É tudo tão óbvio que se torna ridículo. São os novos tempos, estamos mais expostos e a ilusão deixou de ser aceitável. Está à vista.
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2 comentários:
Querida Vanita, eu vou opinar mesmo não fazendo ideia do que estás a falar. O que sei foi do que li aqui, por ti.
Acho que a questão não se põe pelo facto de os jornalistas irem à procura de informação e esmiuçarem as coisas, é esse o seu trabalho. Na minha opinião põe-se no facto de isso simplesmente não ser notícia. O que é que importa o que a Fernanda Câncio pensa da Judite de Sousa? De que ângulo é que isso é realmente importante para ser notícia?
Ora aí está! Eu concordo contigo, por incrível que pareça. Aliás, comecei o dia a dizer exactamente isso. No entanto, o que torna um facto notícia também é, entre outros indicadores, o interesse que desperta numa determinada audiência. Para usar uma metáfora que odeio: não se pode ignorar o elefante no meio da sala. Irónico neste caso é que são os próprios jornalistas a colocá-lo lá com tanta discussão, mas isso daria outra conversa, ainda mais longe. Há interesse público na fofoquice. Se é questionável, claro que sim. Como se define a hierarquia das notícias? Penso que depende de factores que nos fogem do controlo, como a educação, a cultura e o sentimento de pertença a determinados grupos. Não podemos é mudar as evidências e, queira-se ou não, o pontapé do Marco abafou a recandidatura de Jorge Sampaio à Presidência da República. Mudámos pouco desde então.
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